Músico multi-instrumentista, diretor, videomaker, esportista. Atividades que muitos de nós gostaríamos de praticar – e uma de cada vez já estaria ótimo – mas que algumas pessoas estranhamente conseguem acumular. O paulista Carlinhos Zodi é um exemplo.
Na música, tem três álbuns lançados de forma independente, sendo um instrumental e dois cantados, e nos três gravou voz e todos os instrumentos. Atualmente, divulga o mais recente, Kingston Bossa, gravado parte em São Paulo e parte em Kingston, Jamaica, no estúdio Tuff Gong, da lenda Bob Marley, e com participações de Leroy Sibbles (vocalista da banda Heptones), e Toots Hibbert, do Toots & The Maytals. Tá bom, ou quer mais?
Na televisão, é uma das mentes e lentes por trás da série de skate “Pela Rua”, do Canal Off, ao lado de Flavio Samelo e Anderson Tuca, e supervisor do programa FMX, da ESPN Brasil. Porém, já atua como diretor desde 2000, tendo feito inclusive muito material para a MTV.
Zodi separou um espaço nesse monte de atividades para nos contar um pouco sobre sua rotina, música e televisão.
ZINABRE: Zodi, primeiro vai uma curiosidade particular. Divulgação do Kingston Bossa, Pela Rua, FMX, viagens pra cá e pra lá… Sobra tempo nessa vida pra fazer mais coisas que a gente não vê? Por exemplo, esses dias tinha uma foto sua surfando no Instagram…
Carlinhos ZODI: Ah sim, sempre sobra, ainda pego ondas, cuido das plantas aqui de casa, família, tudo. Tem que ter tempo pro lazer e pra família.
ZNB: Por falar em Instagram, muito do teu trabalho é divulgado por ti mesmo, via redes sociais. Qual a importância destes meios para o crescimento do teu material seja musical ou visual?
CZ: Cara, sinceramente não sei, eu vou publicando, me divirto fazendo isso, mas nunca tenho a noção real de onde a informação chega através desses meios, daí de vez em quando me surpreendo de ser reconhecido em um lugar totalmente improvável. É difícil mensurar, às vezes parece pouco e às vezes parece muito, mas de qualquer forma continuo porque acho que se tem gente que se diverte ou se sente bem absorvendo as coisas que eu publico, esse é motivo mais que suficiente pra continuar publicando.
ZNB: Falando agora de Kingston Bossa: Chama muito a atenção o fato de o disco ter parte da produção feita no Tuff Gong, e ainda com as participações do Leroy Sibbles e do Toots Hibbert. Como tudo isto aconteceu? O projeto, os contatos, a expectativa de eles aceitarem os convites…
CZ: A Tuff Gong era um sonho que foi ganhando forma ao longo das gravações do disco. O Gustah, que produziu o disco comigo, e eu, decidimos mesmo que íamos quando vimos que o disco tava ganhando um caldo mais grosso, daí começa todo o processo de ir em busca do sonho e fazer ele virar realidade. O Leroy era uma vontade que não tínhamos contato nenhum e caiu do céu, sincronicidade total. Com o Toots o Gustah tinha o contato, mas nenhum brasileiro até hoje tinha conseguido gravar com ele, fizemos o link, fomos na casa dele, ele escutou o som e topou, foi um momento mágico também.
ZNB: As tuas canções aparentam ser muito pessoais, as letras passam esta ideia de reflexão, cotidiano, aquela simplicidade que mantém a beleza. Como é o teu processo de composição?
CZ: Cada caso é um caso, mas geralmente elas começam com uma harmonia que eu toco e acho legal, daí vou desenvolvendo a melodia cantarolando e emendando na continuação da melodia, a letra vai nascendo conforme a melodia e a harmonia estão mais definidas também, mas é praticamente tudo junto. Não consigo pensar em letras sem melodia ou melodia sem harmonia. A Deixa Molhar eu comecei voltando de bicicleta do parque, a melodia veio pra minha cabeça, fiquei repetindo ela até chegar em casa pra não esquecer, daí desenvolvi o resto. Geralmente são momentos de inspiração, nunca fiz música sob pressão, elas nascem espontaneamente.
ZNB: Quais as principais influências das tuas músicas? Vi, por exemplo, um encontro bem interessante com o Ben Harper na casa do Bob Burnquist, na California, que transpareceu ser um aprendizado e uma sintonia bem interessantes…
CZ: A música do Ben Harper mudou a minha vida quando escutei pela primeira vez, o cara é uma referência máxima pra mim, encontrar com ele e rolar a jam musical foi mais um desses presentes generosos da vida. Minhas influências musicais são muitas, muito reggae, mas o reggae antigo, rocksteady… Amo música brasileira, música africana, cubana, enfim, amo música, mas geralmente me aproximo mais das acústicas, orgânicas, tocadas, não conecto com coisas eletrônicas e quantizadas. Se bem que no fundo no fundo a maior influência mesmo é a vida, ela que te dá recursos pra criar no campo que for, da música, do vídeo, de tudo.
ZNB: Agora vamos falar um pouco de TV. Hoje o “Pela Rua” é teu principal trabalho que está no ar, mas eu lembro que o primeiro trabalho que vi e relacionei ao teu nome foi o Aparelhagem MTV, que também tinha como tema viagem, a cultura das ruas, mas dentro de uma proposta diferente. Quais semelhanças tu observas entre estes dois projetos e, ainda mais, entre o teu trabalho como um todo na época do Aparelhagem e hoje?
CZ: Legal, antes do Aparelhagem eu fiz outras coisas, trabalhei na ESPN, dirigi outras coisas na MTV, mas o Aparelhagem foi meu retorno pra frente da câmera, mesmo que dirigindo, e foi num momento intenso da música também, o disco Mundo Mais Bonito tinha acabado de ficar pronto. Ele foi um projeto grande, muita gente envolvida. O Pela Rua em minha opinião é um primo do Aparelhagem, tem o Samelo e eu, tem a metalinguagem, tem o skate, mas não tem a música, o soundsystem, a arte. Vejo os dois como sendo projetos metalinguísticos e multi-plataformas no formato reality, que é o tipo de programa que eu mais gosto de fazer.
ZNB: Apenas para não perder o gancho, como foi a época da MTV? A emissora de certa forma marcou e influenciou algumas gerações…
CZ: Ah, foi muito legal, eu peguei a MTV numa época boa, e fui chamado logo de cara pra desenvolver e dirigir o Família MTV, projeto que revolucionou a TV brasileira, em minha opinião depois do Família que começaram a pipocar os realitys “câmera na mão”, que eram blasfêmia antes disso, takes longos, entrava no ar exatamente o que não entraria em outro tipo de programa. Eu comecei fazendo o Família do D2, que já tava querendo me chamar pra fazer um outro projeto, foi coincidência total e depois virou um grande amigo. Depois disso rolaram mais alguns Famílias, depois outros programas, reformulação e direção do Mochilão pra Mochilão Rock Estrada… Me diverti bastante naquela emissora.
ZNB: Voltando ao “Pela Rua”: como surgiu esta ideia de mostrar o skate de uma forma tão “pura”? E a parceria com o Anderson Tuca e o Flavio Samelo?
CZ: Olha, o programa antes seria um programa comportamental pro Multishow, daí eles mudaram a ideia pra ser um programa de skate. Pensei: depois de tantos anos, só vou fazer um programa de skate se ele tiver um formato diferente e mostrar o skate como ele é de verdade na minha opinião, mostrar as sessões, tudo que rola em volta de uma sessão. Daí veio a ideia das outras plataformas, o videomaker e o fotógrafo, que claro, teriam que ser o Tuca e o Samelo, meus grandes amigos, irmãos e parceiros de longa data. Engraçado, agora pensando eu me liguei, o processo de criar um programa é bem parecido com o de fazer uma música, os elementos vão surgindo e se amarrando.
ZNB: O programa já está na quarta temporada, e vocês viajaram tanto pelo Brasil quanto pela Europa, mais recentemente. Já temos outros locais em vista? Quais os rumos do “Pela Rua”?
CZ: Segredo… Hahahahahahahaha…
ZNB: Sabemos que uma trilha sonora mal escolhida pode estragar um excelente vídeo, assim como a música certa pode até dar outra cara a um vídeo que nem esteja tão caprichado (os ruins, nem milagre salva). Trabalhando nas duas pontas desta “cadeia”, tu consegues separar uma coisa da outra, ou já produz um programa, por exemplo, pensando em que trilha vai utilizar?
CZ: A trilha aparece na hora de editar, não de gravar. Quando você senta na ilha que começa a decidir o que vão usar pra sonorizar, é um processo espontâneo e que depende muito do estado de espírito que você está na hora, pelo menos comigo é assim.
ZNB: Para encerrar, quero voltar à música. Recentemente te vi postando uma espécie de “desabafo” com relação a tua produção musical, referente a gravadoras, o fato de lançar as músicas de forma totalmente independente… Quais as vantagens e desvantagens de ser um artista independente? Por exemplo, apesar das dificuldades, pareces se dar uma liberdade muito grande para experimentar…
CZ: Resumindo, independente você tem muito mais liberdade pra criar e fazer o que quiser com sua música, mas fica muito mais difícil de sobreviver dela. Ainda não tenho muitas respostas sobre a música porque não entrei num processo de fazer ela acontecer de verdade, ainda tô engatinhando nesse sentido apesar de ter feito três discos já. Ainda não precisei viver de música por causa do vídeo, mas acho que vou ter essas respostas com o tempo, entender melhor sobre o lado mercadológico da música.
ZINABRE: Por fim, deixamos aqui um espaço para qualquer recado, pensamento, lembrete, indicação… Com a palavra, Carlinhos Zodi:
Carlinhos ZODI: Façam o bem, façam a sua parte pelo mundo, só a gente pode transformar nosso mundo e nossas vidas, que seja pra melhor.
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